“Em time que está ganhando não se mexe.” Este parece ser o lema da Nintendo há quase 30 anos com “Pokémon”, uma de suas franquias mais conhecidas e bem-sucedidas. O novo jogo da série, “Pokémon Legends: Z-A”, até flerta com algum tipo de inovação, mas se segura tanto no processo que passa a sensação de ser quase um game pela metade.
Lançada no último dia 16 para o Switch e o Switch 2, a aventura é a nova adição à linha “Legends”, uma série paralela à principal – que tem em “Scarlet & Violet”, de 2022, seu mais recente exemplar.
Continuação indireta de “Arceus”, também de 2022, “Z-A” mais parece um “Legends 1.5”, graças à troca do clássico sistema de batalhas em turno por um em tempo real e quase mais nenhuma inovação.
A iniciativa até é louvável. Infelizmente, confrontos infestados por momentos truncados e golpes desperdiçados não são o salto evolutivo gigantesco que os desenvolvedores pensam ser.
Especialmente em um mundo contido em uma cidade cinza e sem imaginação alguma – e a evidente falta de coragem para dar seguimento a algumas propostas promissoras que são rapidamente abandonadas.
Assista ao trailer de ‘Pokémon Legends: Z-A’
Um pequeno passo para ‘Pokémon’
Em termos de história (e de localização), “Z-A” está mais para uma continuação de “X & Y”, de 2013. O jogo, afinal, se passa totalmente na cidade de Lumiose, apresentada no representante da sexta geração das criaturinhas.
Esse é um dos grandes diferenciais (negativos) do resto da série. Conhecida por mundos com ambientes variados, mesmo guardadas as devidas proporções no caso dos primeiros games, a franquia confina o jogador a um só lugar.
Para ser justo, a escolha introduz uma verticalidade rara, mas para por aí. Sem personalidade, cor ou vida na maior parte do tempo, é difícil sequer reconhecer diferentes partes da metrópole sem acompanhar toda e qualquer movimentação pelo radar.
Em teoria, ela oferece um bom cenário para o sistema de batalhas em tempo real, de longe a grande novidade do lançamento.
Nos confrontos, o jogador ainda deve escolher um pokémon em seu time de seis no total, e depois um golpe de um total de quatro da criatura. Até aí, qualquer treinador veterano já conhece de cor.
A diferença agora é que cada poder tem um cronômetro para que possa ser usado novamente, e não depende mais de uma reação do adversário. Isso incentiva a opção também por golpes passivos, que aumentam o poder da criatura ou que diminuem do rival, já que nem todos os tipos de ataques são efetivos.
‘Pokémon Legends: Z-A’
Divulgação
Dá para falar que nem toda luta flui com perfeição. O posicionamento passa a ser importante, mas uma falta de refinamento na relação entre pokémons e cenário atrapalha qualquer tipo de estratégia do tipo.
Por vezes, é possível que surja um desafio de um rival no alto de um prédio do outro lado da rua. O resultado são pokémons lançados para o abismo entre as construções, presos em um ciclo quase eterno de queda e ressurgimento automático no ar, sustentados por algum segundo até a inevitável nova queda, como o Coiote da Looney Tunes antes de se lembrar da lei da gravidade.
O exemplo é extremo, mas raras são as batalhas que não sofrem com algum tipo de desconjuntura, seja por um raio que simplesmente atravessa o adversário ou por uma criatura que erra o golpe porque resolveu virar um grau no próprio eixo do nada um segundo antes.
Dá para ver o potencial do novo sistema. Ele entrega um dinamismo bem-vindo à série, que vai além da renovação geral, e exige a atenção constante que confrontos em turno dispensam.
É definitivamente um passo na direção certa. Uma pena que os desenvolvedores não tenham dedicado o esmero que a iniciativa precisava.
Mas a falta de atenção, ou de coragem, não parou por aí.
Ideias pela metade
“Z-A” abandona também grande parte da fórmula clássica da história de jogos “Pokémon”, com seus grandes rivais estabelecidos no começo e a busca pela excelência como treinador, que sempre levava a confrontos contra líderes de diferentes ginásios e à inevitável liga final.
Dessa vez, o protagonista é atraído à trama principal quase que por acidente, não há qualquer inimigo claro e tampouco a eterna estrutura de ginásios e insígnias.
Como o título sugere, os treinadores da cidade habitam um ranking baseado em suas habilidades, que começa da letra Z e vai até o topo, na A.
Parece um pouco bobo – e trabalhoso – à primeira vista, mas com o tempo a nova dinâmica também oferece seus atrativos, por mais que falte a cada conquista a complexidade narrativa de jogos anteriores.
É provável que o game cometa um de seus maiores erros exatamente na tentativa de remediar essa falha. Bem quando o jogador já começa aceitar que precisará avançar por 26 níveis, a trama inventa uma desculpa para um salto gigantesco frustrante.
‘Pokémon Legends: Z-A’ traz de volta as mega evoluções
Divulgação
Pode ser um detalhe meio bobo para alguns, mas é o exemplo perfeito da falta de compromisso dos desenvolvedores com os próprios conceitos. Uma falta de coragem que, por sua vez, provoca mais problemas do que soluções.
E “Z-A” é infestado de ideias pela metade, como um menu no qual é possível salvar diferentes times de batalha, mas que simplesmente não pode ser usado na campanha principal – apesar de estar acessível nela.
Não é como se o novo “Legends” fosse ruim. Ainda é um jogo “Pokémon” e fãs da série com certeza vão curtir mais uma oportunidade de montar seu time e ver as mega evoluções de alguns de seus monstros favoritos.
Mas quem joga a franquia desde a primeira geração, lá em 1996, continua a se frustrar a cada novo capítulo que se contenta com meio passo para frente e olhe lá.
Cartela resenha crítica g1
Arte/g1
Fonte: G1 Entretenimento
 
		